Israel acaba de anunciar a descoberta de uma significativa reserva de petróleo nas Colinas de Golã. Mesmo com seu setor de gás natural em expansão, o país é bastante dependente em termos energéticos e importa cerca de 99% do petróleo que consome. Mas não consegue importar petróleo dos principais exportadores do Oriente Médio com os quais faz vizinhança e que lhe são hostis. Além disso, há também um impeditivo logístico significativo que é a falta de oleodutos compartilhados com os países da região. Nesse cenário, Israel tem como principais fornecedores a Rússia e os países do Cáspio, especialmente Azerbaijão e Cazaquistão, empregando navios-tanque para o transporte. Mais recentemente, Israel passou a importar cerca de três quartos de seu petróleo do Curdistão iraquiano, o que, por sua vez, tem sido uma fonte de financiamento da luta dos curdos contra o Estado Islâmico. Ao mesmo tempo, a relação comercial aumenta o atrito entre a província curda que clama por independência e o governo central do Iraque, que não reconhece Israel.

É nesse contexto de dependência energética, de vizinhança hostil e de tensões políticas que se fundamenta a importância do anúncio dos últimos dias sobre a descoberta de grande reserva de petróleo nas Colinas de Golã, região outrora pertencente à Síria, porém ocupada por Israel desde 1967 (em meio à Guerra dos Seis Dias) e ainda sob disputa entre os dois países. Chama a atenção, portanto, o timing da descoberta, bem em meio ao conflito sírio, ou seja, em um momento de fragilidade do país vizinho, a quem as Colinas de Golã são internacionalmente reconhecidas como pertencentes. Assim, o momento atual apresentaria menos empecilhos para a exploração por Tel Aviv, ainda que o projeto não esteja ausente de oposição. A principal contestação tem vindo dos ambientalistas, que alertam para as consequências que a exploração traria para as reservas subterrâneas de água e para o Lago Kinneret, pelo fato de a reserva ser de petróleo de xisto. Por outro lado, a proximidade geográfica da reserva com o atual conflito sírio poderia dificultar sua proteção. A reserva também pode representar um alvo para os inimigos de israel.

Em relação às consequências da descoberta, por enquanto o anúncio tem dividido analistas. Por um lado, há quem aponte para o grande impacto do depósito na balança energética israelense, chegando a apostar na independência energética do país. A própria empresa responsável pela exploração (a Afek Oil and Gas, subsidiária da americana Genie Energy) tem, evidentemente, advogado fortemente em prol dos benefícios que a exploração trará à economia israelense, anunciando inclusive a autossuficiência energética. Aqui, contudo, cabe um adendo. Israel, como qualquer outro país do mundo com exceção dos EUA, não possui a tecnologia necessária para a exploração de xisto. Isso, porém, não parece ser um problema para os norte-americanos, que têm promovido uma campanha internacional a favor da exploração desse recurso apesar dos fortes protestos em seu próprio país. Além disso, o próprio fato de a empresa responsável pela exploração ser subsidiária de uma companhia americana (da qual o ex-vice-presidente dos EUA, Dick Chenney, é um dos maiores investidores) sinaliza o posicionamento dos EUA em relação ao assunto.

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Por outro lado, há analistas mais cautelosos, que preferem questionar o real impacto da descoberta, por ainda não haver estimativa de quantidade e, consequentemente, de produtividade. Além disso, ainda não se sabe também com que grau de facilidade o recurso poderá ser extraído e, visto o baixo preço internacional da commodity, ainda é preciso calcular se vale mesmo a pena explorar a reserva. Nesse caso, Israel pode ser confrontado por duas forças: a implicação geopolítica que a menor dependência energética traria – ainda mais com a possibilidade da autossuficiência – e os custos econômicos, ambientais e políticos de explorar uma região contestada, através de uma técnica controversa (o fracking) e cara.

Diante desses fatores, é preciso cautela em relação à descoberta de petróleo na região. A empolgação do governo israelense e dos interesses privados envolvidos oculta o fato de que ainda não se sabe o tamanho real da reserva nem tampouco a viabilidade da exploração. Além disso, pouco se menciona que a descoberta é de petróleo de xisto, uma fonte não-convencional e bastante contestada em termos ambientais, apesar da campanha internacional dos EUA tentar provar o contrário.

Além dos problemas técnicos, há também a delicada geopolítica regional, pois se trata de uma zona ocupada, sobre a qual a soberania israelense não é reconhecida. Ademais, o território encontra-se na fronteira com a Síria, o que neste momento pode ser tanto uma vantagem para Israel, dada a fragilidade do país em guerra civil, quanto um empecilho, podendo gerar maior envolvimento de Tel Aviv no conflito.

Por fim, pode-se ainda argumentar que, em previsões energéticas, nunca se perde em desconfiar de afirmações que perpassam dois extremos: o da escassez energética e o da autossuficiência. Afinal, se por um lado novas reservas, fontes e técnicas exploratórias, com a ajuda da evolução tecnológica, são constantemente descobertas, por outro as promessas de independência energética envolvem alto custo econômico, ambiental e político, o que em geral as transformam em projetos um tanto utópicos.