Frequentemente, ao postular sediar um destes eventos, os Estados são atraídos pela promessa de legados sociais, esportivos, econômicos e ambientais. Vislumbra-se sempre a oportunidade de alavancar a economia local pari passu a inserção do país/cidade-sede na rota do turismo mundial.
No caso dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro não é diferente. De um lado, o discurso oficial procura construir uma imagem de confiabilidade na execução das obras perante a audiência externa, conforme disse Eduardo Paes: “a Olimpíada é uma oportunidade de mostrar um Brasil diferente do país que atrasa licitações e superfatura preços. (…) É uma enorme oportunidade de transformação”. E, de outro lado, procura-se vincular o megaevento aos ganhos econômicos para a região, especialmente nos quesitos mobilidade urbana e emprego. A ideia é que o evento seja o motor de arranque para investimentos que a população reivindica há muito tempo.
Por trás dos discursos otimistas, cujos legados social, cultural, ambiental, político, econômico ou esportivo são os grande atrativos, o que se nota é quase sempre previsões superestimadas, tanto do ponto de vista dos ganhos econômicos quanto da projeção internacional do país/cidade-sede.
Barcelona (Olimpíadas, 2002), por exemplo, é sempre citada como prova cabal de que um legado existiu. No entanto, diversos estudos apontam para a geração de empregos de baixa qualidade, baixo salário e pouca duração, bem como o aumento na especulação imobiliária. A tendência dos tomadores de decisão de superestimar o potencial econômico dos megaeventos esportivos tem sido cada vez mais questionada por estudos acadêmicos. Londres (Olimpíadas, 2012), por sua vez, também reduziu a expectativa em relação ao número de visitantes estrangeiros.
A fantasia de subestimar custos e impactos ambientais, superestimar receitas e sobrevalorizar efeitos em termos de desenvolvimento econômico não é exclusividade dos países em desenvolvimento (ou, no caso, dos BRICS). De Barcelona a Londres é possível notar a mesma retórica discursiva sobre os legados dos megaeventos. Por isso, é preciso um olhar atento sobre tais competições. É preciso, portanto, considerar como pesquisa futura o impacto social dos megaeventos.
Além disso, depois do caso de corrupção que envolve altos funcionários da FIFA, faz-se necessário uma ampla consulta pública antes de aprovar projetos de megaeventos, bem como tornar mais democrática a decisão de sediar uma Olimpíada ou uma Copa do Mundo.