A decisão tomada por Alexis Tsipras no último dia 20/08 de que renunciaria ao cargo de primeiro-ministro da Grécia pode ter sido uma surpresa para muitos. Mas estava escrita nas estrelas. Oito meses após sua posse, o principal líder da Syriza jamais teve momentos de tranquilidade ou de falta de oposição. Sua renúncia é em boa medida um reflexo disso. Mas é também uma operação abertamente política, destinada a mantê-lo vivo e ativo na política grega.

No comunicado em que anunciou sua decisão, Tsipras foi claro: “O mandato que recebi em janeiro atingiu seus limites”. Os cidadãos serão chamados às urnas provavelmente em setembro – pouco depois, portanto, do emblemático referendo sobre o plano de ajuda da União Europeia, em torno do qual cresceram as pressões sobre seu governo. Tsipras venceu o referendo, mas foi forçado a aceitar um empréstimo de 86 milhões de euros a ser pago em três anos e com base num plano de ajuste particularmente rigoroso, que já havia sido rejeitado pelos gregos.

“Os eleitores”, disse Tsipras, devem avaliar bem quais foram os meus sucessos e os meus erros”. Enfatizou que procurou obter o melhor acordo possível com os credores do país e que, agora, os gregos devem decidir que reformas desejam e quem poderá executá-las. Foi a forma que encontrou de dividir responsabilidades e dialogar com a população.

O principal problema de Tsipras, hoje, está dentro de casa, mais especificamente em seu próprio partido. Em 14 de agosto, cerca de 40 deputados do Syriza recusaram-se a votar em favor do plano de ajuda europeu, e 25 deles romperam com o partido e anunciaram a formação de uma nova agremiação, a ser dirigida pelo antigo ministro de Energia, Panagiotis Lafazanis, político saído do Partido Comunista.

A ruptura da ala esquerda do Syriza complica a situação de Tsipras. O novo partido não estará em posição de contemporização ou solidariedade. “O governo age sob o regime do pânico e do medo. Quer que os eleitores votem antes de terem sido informados da totalidade das medidas incluídas no acordo com a União Europeia e antes que possam sentir seus efeitos na vida cotidiana”, declarou um de seus porta-vozes.

O próprio Panagiotis Lafazanis afirma que a decisão de convocar eleições antecipadas é um “ato antidemocrático” que facilita as pressões dos credores internacionais, da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional. “Quem governa a Grécia?”, pergunta ele. “O presidente da Comissão Europeia, Juncker, ou a chanceler alemã Angela Merkel?”. Para ele, o país “não tolera mais outras medidas de austeridade e se for necessário deveríamos sair da zona euro, o que de modo algum seria um desastre. Outros países europeus estão fora da zona euro, não devemos ter medo ou demonizar algo assim”.

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Com seus 25 deputados, o novo partido terá a terceira bancada no Parlamento grego, atrás do Syriza (119) e do partido de direita Nova Democracia, mas à frente dos centristas do To Potami e do partido de extrema-direita Aurora Dourada, que têm 17 deputados cada um. Ainda que tenham se manifestado publicamente contra a adesão de Tsipras ao plano de ajuda europeu, nem Yanis Varoufakis, ministro das finanças que se demitiu no início de julho, nem Zoé Konstantopulou, presidente do Parlamento, estão entre seus fundadores.

Ao convocar novas eleições legislativas, Tsipras busca contornar a perda de apoio parlamentar e a falta de consenso em seu próprio partido, valendo-se para tanto do prestígio popular que ainda detém. Segundo analistas, os gregos ainda consideram que Tsipras está sendo chantageado pelos europeus e continua empenhado em abrir novas negociações. Além disso, não parecem dispostos a apoiar a velha classe política, manchada pela corrupção e pela falta de firmeza.

O resultado das urnas será aguardado com expectativa. Por ele passarão os passos futuros do acordo com a União Europeia, antes de tudo a possibilidade mesma de sua continuidade e o pagamento da dívida contraída com o empréstimo. Caso Syriza vença com boa margem, Tsipras sairá fortalecido e poderá formar um novo governo com bases mais sólidas de sustentação.

Sondagens de opinião realizadas desde o final de julho pelo instituto Metro Analysis indicam que Syriza conquistaria cerca de 34% dos votos, contra 18% de Nova democracia e 6% de To Potami, ambos de centro-direita. É um cenário a ser bem avaliado e aproveitado, já que mostra Syriza muito próximo dos 37% necessários para a obtenção de maioria absoluta.

O quadro, porém, é volátil e impreciso. O novo partido de esquerda não é particularmente forte, ainda que possa produzir turbulência e desgaste. Syriza poderá vencer as eleições, não obter a maioria absoluta e ficar sem ter com quem formar uma nova coalizão de governo.

Será então a hora de a esquerda e as forças democráticas decidirem em que direção caminhar.