Rafael Teixeira Fortes
Mestrando no Programa de Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP)


No dia 07 de maio de 2017, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes Ferreira, iniciou um ciclo de viagens pela África Austral. Serão cinco países visitados: Namíbia, Botsuana, Malawi, Moçambique e África do Sul. Com uma comitiva composta por empresários brasileiros, a viagem tem o intuito de aprofundar as relações entre o Brasil e os citados países, através de investimentos e parcerias em setores diversos, como defesa, energia e ciência e tecnologia.

Comparando a recente atuação do atual ministro com seu antecessor, José Serra, percebe-se uma ligeira mudança no que se refere à cooperação Brasil-África. Os nove meses de atuação de Serra deixaram de saldo apenas uma reunião com chanceleres de países luso africanos (Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e Angola) durante o encontro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e uma singela participação na Reunião de Ministros das Relações Exteriores do G20 em fevereiro deste ano. Enquanto isso, após um mês no cargo, Aloysio já assume posição mais atuante, com a decisão de atribuir maior dedicação ao relacionamento com Estados africanos, através de relações bilaterais e do aprofundamento da cooperação técnica entre os países. No dia anterior ao início da viagem à África, em artigo publicado pelo jornal Corrreio Braziliense, Aloysio Nunes ressaltou: “O Brasil é o maior país africano fora da África, uma identidade da qual nos orgulhamos e um cartão de visitas capaz de abrir portas e angariar a boa vontade dos países africanos. Queremos traduzir essa afinidade histórica em ações concretas, aprofundando projetos de cooperação, ampliando o comércio e os investimentos e criando novas parcerias em áreas como defesa, energia, e ciência e tecnologia. […] A parceria com a África é não apenas uma decorrência natural de nossas afinidades históricas e culturais, mas um imperativo na construção de uma ordem mundial mais favorável aos nossos interesses e aspirações”.

Leia mais:  Situação venezuelana desafia diplomacia brasileira

É interessante notar a aparição da clássica retórica afinidade histórica e cultural do Brasil com o continente, importante característica das justificativas para a aproximação entre brasileiros e africanos. Antes mesmo de sua abordagem pela Política Externa Independente de João Goulart, já era anseio de setores do Itamaraty, e perpassa diferentes governos, tanto em momentos de aproximação quanto de afastamento do Brasil ao continente africano. Seja para a condenação dos regimes neocoloniais na África, seja no estabelecimento de relações com os países recém independentes entre 1960 e 1980, no teor da cooperação técnica nos governos pós-ditatoriais ou no discurso da cooperação Sul-Sul no século XXI, tal narrativa passou a ser ferramenta-chave na construção diplomática das relações entre Brasil e África. Dessa forma, não surpreende o novo ministro utilizar a mesma justificativa de governos anteriores. A orientação poderá até mesmo ser reiterada em governos futuros, ainda que as posições do Itamaraty quanto às diretrizes da Política Externa possam se diferenciar com o tempo.

O que o anúncio da viagem deixa claro é que, mesmo que possa ter havido uma relativa diminuição da diplomacia brasileira com os Estados africanos – se compararmos ao boom dos relacionamentos do período Lula (2003-2010), visto que a própria governança de Dilma Rousseff já demonstrava os sinais do recuo brasileiro no plano internacional como um todo -, o continente ainda se mostra como uma região atrativa e aberta para oportunidades comerciais, diplomáticas ou mesmo militares. Deve ser levada em consideração não apenas nos estudos acerca da Política Externa Brasileira – assunto que obteve particular atenção no desenvolvimento acadêmico nos últimos anos – mas também no planejamento do governo e do Itamaraty acerca da inserção internacional do Brasil.