Desde sua criação como disciplina acadêmica, as Relações Internacionais têm vivenciado debates em busca de sua afirmação como ciência, contrapondo as visões de diferentes escolas de pensamento e teorias que se afastam e se aproximam em relação aos diversos fenômenos que as Relações Internacionais tentam compreender. Nesse embate recorrente entre teorias mainstream e teorias alternativas, as vertentes Realista e Neorrealista ganham maior visibilidade e são clamadas como detentoras de grande capacidade explicativa dos fenômenos internacionais.

Política de poder e capacidades militares tornam-se, assim, mote recorrente. As relações internacionais são vistas como a busca pelo equilíbrio de poder, o mundo passa a ser definido em termos de polaridades, de grandes potências em torno das quais se agrupam os Estados com menores capacidades. A reciprocidade entre teoria e realidade acaba por fomentar os estudos em torno de duas subáreas principais: segurança e defesa, e política externa.

Aqueles que apreciam os aspectos econômicos são, com frequência, deixados à margem da disciplina. Não que não haja centros para estudos de Economia Política Internacional, mas, em comparação com a grande quantidade de pesquisadores voltados para política externa e segurança, são poucos os que se dedicam a essa área. Correm, inclusive, o risco de ter suas pesquisas tachadas como pouco relevantes ou enfadonhas.

Em sua origem na década de 1970, a Economia Política Internacional (EPI), uma das subáreas das Relações Internacionais, foi também formada em torno de dois polos distintos: a EPI americana e a EPI britânica. Por um lado, autores que trouxeram da economia clássica pressupostos para compreender as relações entre os Estados; por outro, autores que buscavam criticar o mainstream e as relações de poder. Entre os dois lados do Atlântico uma semelhança: a união dos campos de estudo da Política e da Economia, uma análise da dinâmica das interações dos Estados em busca de riqueza e poder, as relações complexas das atividades econômicas e políticas no nível internacional.

A escola britânica, liderada por Susan Strange e Robert Cox, assumiu uma postura crítica em relação à visão do sistema internacional formado apenas pelas relações entre Estados. Os estudos tentaram superar o Estado-centrismo, incorporando outros elementos, como ideias, sociedade e instituições, nas análises sobre a ordem mundial.

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Entretanto, a escola americana da EPI acabou se tornando dominante nos estudos. Autores como Krasner, Keohane e Nye se sobressaíram no campo da EPI, utilizando conceitos da Economia, como o cálculo racional dos atores e a teoria dos jogos, para compreender como cada Estado buscava maximizar seus ganhos, ou ao menos tomar decisões que minimizassem suas perdas no sistema internacional. Embora a escola americana não tenha rompido com o pressuposto do Estado como principal ator das Relações Internacionais, não se pode desconsiderar a relevância de seus estudos, especialmente por terem unido política e economia (ainda que tenha sido o mainstream econômico).

A Economia Política Internacional tem sido frequentemente associada ao debate entre essas duas escolas em um momento histórico específico – Guerra Fria, crise de hegemonia dos Estados Unidos – e, portanto, datada. Mas sua relevância para as Relações Internacionais faz-se presente até hoje. Os estudos sobre as instituições/organizações internacionais têm relação com a EPI. Mas, mais do que isso, a EPI analisa os fenômenos internacionais a partir da interação entre Estado e mercado. Busca-se, então, compreender a dinâmica do sistema internacional não apenas a partir da política de poder, mas também por meio das interações econômicas entre os Estados, e das relações entre estes e o mercado, o qual se materializa na produção, nas finanças, nas moedas. A EPI avança na política de poder ao tentar compreender fenômenos que, muitas vezes, sustentam essa política.

O que seria de um Estado militarmente forte, sem uma moeda forte? Como compreender a melhora nas condições de vida das populações sem compreender as políticas econômicas de benefícios sociais e crescimento nacional? Como compreender a hierarquia internacional de Estados politicamente fortes e fracos, sem compreender a dinâmica econômica do centro e da periferia do capitalismo? A todas essas inquietações parece haver um caminho indicado pela Economia Política Internacional e por aqueles que se aventuram a estudá-la.